Fotoletras Poéticas

Escrever, fotografar: eis a poesia do sentir; eis a poesia do olhar! Fotografar o que se vê, escrever o que se sente!
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domingo, 26 de julho de 2009

Os meus trinta


Karina Araújo Campos
12 de junho de 2009.

Cedo ou tarde vamos descobrir que quem importa para nós somos nós mesmos. E não se trata de imaturidade ou egoísmo não, nem de um retorno literal ao “id”, mas sim, de que se você transita durante alguns bons anos sobre a tentativa de realizar-se no outro, ou de que outrem o realize e baste para você é cansativo, e cansar-se é, na maioria das vezes desgastante e traz infelicidade.

Incrível que no ato de tais descobertas na vida, há sempre uma revolução. E revolução, já sabe... algo na essência do ser se modifica, quebra paradigmas, destrói-se soldados internos, nascem monges, ou destrói-se monges e nascem-se soldados dentro de cada um.

Pelo menos ao longo das minhas primaveras aconteceu assim. Como em meu conto “Guerra Íntima”, essa guerra que nunca cessa. O importante é entender as transformações.
Às vezes se recolher, ou extravasar.

Hoje eu não vou ouvir o que me desagrade e permanecer calada. E a maior de todas as descobertas é que não estou só falando. Estou agindo. Agindo bem ou mal, estou falando. Claro, devo atentar-me para o modo da reação ou ação, mas não profano mentiras, mas o modo da agir ou reagir, devo repensar. Estou na fase “id”, na impulsividade do transformar.

Que assim seja! Atire a primeira pedra quem tem domínio e controle total sobre si mesmo.

Meu desafio hoje é fazer e ser apenas o que quero. Ser o que sou. E ter também. Por que não?

Lutas constantes fazem parte do meu cotidiano, do cotidiano de todos nós. Nada nos impede de ter conquistas materiais à partir do trabalho. Trata-se de buscas e retornos. O que virá, o que será? Não importa. Vamos buscar. Buscar na independência. Desgasta-me a idéia de que tenho que depender de outrem para viver, para fazer, para realizar. Não acredito nisso. Se quero vou fazer, vou buscar. Livrai-me Deus, de um dia ser uma cruz ou um empecilho para alguém.

Deixai, Deus, os jovens virem com toda força e os velhos se irem com suas inevitáveis fraquezas. Mas tornai-nos, Universo, independentes de alma. O querer depender é lastimável. Lastimável... Por isso, eu vou...

Aquela frase que diz “não fazemos nada sozinhos” não existe para mim. Eu faço sim. Muita gente faz, e é feliz, ou infeliz, ou tem retornos, ou não. Assim como todo mundo. E também não significa que tais atitudes signifiquem egoísmo, egocentrismo. Simplesmente que fazemos sim, coisas sozinhos. Alguém vive no lugar de alguém? Alguém passa para alguém o que a pessoa tem que passar? Alguém morre na hora errada ou no lugar de outra pessoa? Nem tentem... Vai dar errado. Basta a sua própria cruz. Ajudar e ser solidário não é isso. Nem tampouco sua solidariedade é a correta ou significa solidariedade para o outro. E o que você quer? E o que o outro quer? Na complexidade do significado real de tudo isso, creio que passei a mensagem que queria.

Chegar aos trinta anos é como ser adolescente. Você está velho demais para algumas coisas, então você é imaturo. Ou você é novo demais para outras coisas. Concluindo, a imaturidade é a constante da vida do sujeito. Assim como na adolescência, a falta de entendimento para essa máxima ainda permanece. Mas, continuamos a vida, que é linda, e basta estarmos vivos para viver. E a vida é aprendizado mesmo. Ruim é gente que acha que sabe tudo e que já viveu tudo e não tem nada para aprender. Aja...

É estranho o dia do aniversário. E vamos acostumando com tanta estranheza com o passar dos anos. Aquele frio na barriga que temos quando criança não acontece mais. O dia parece que é domingo, mesmo que seja dia de semana. Fica tudo meio deslocado. E o aniversariante mais deslocado ainda.

Este ano eu escolhi fazer o que meu coração pedia há aproximadamente uns três anos. Viajar. E ter consciência de que o aniversário é meu. E que não tenho que fazer aniversário para os outros.

Cada um faz o que quer no seu, e não tenho que comemorar porque os outros querem. Portanto, uma dica: pensem nos próximos aniversários de forma organizada. Pensamento organizado e consciente do que realmente querem.

Já que tudo na data do nosso nascimento é deslocado, parece que por causa do próprio nascimento mesmo. Nós saímos do ventre da nossa mãe para um mundo deslocado de tudo, e aí tudo retorna à memória nesta data. Bom, eu preferi me deslocar para outro lugar no meu dia. A idéia é que tudo fosse uma espécie de retiro e foi. No Caraça, parque de reserva natural, conheci mais que um novo lugar. Conheci um pouco mais de mim. Desloquei-me o tempo todo. Entre trilhas e natureza, entre histórias e histórias, as que foram ditas e as que não foram contadas, mas que permanecem no ar. Na alma daquele lugar. Nas caminhadas pensamentos mil vão e voltam. Quem sou? Quem fica para trás? Quem chega? Quem se instala? Um eu, eu, eueueueueueueueueueueueueueueueue...

Na visita ao museu encontro as mais belas fotos dos animais e espécies existentes no local; dentre elas as borboletas. A borboleta que traduz lindamente e levemente a transformação. E o presente maior foi ler o poema denominado “A terapia das borboletas”, cujo autor Luiz Augusto Cassas escreveu de forma sublime, o que me ajudou a “desencasular-me”. Essa é mesmo a terapia da vida: a transformação / a mudança de atitude / a ação transformada a todo momento, a todo instante / novas formas a um ser, a um agir, a um estar, a um querer / SER. E amanhã, outro SER. Em transformação sempre.

Um eu em transformação constante, com experiências já vividas. O externo se torna cada vez menos importante, o coração, o querer, o desejo, o realizar-se, o interior fica cada vez mais importante.

O seu olhar diz mais que suas palavras para quem o compreende. E quando a atitude o leva a sussurrar suas escolhas, elas se tornam ouvidas universalmente, causando medo e receio alheios. O sussurro é o grito da alma. E a sua escolha é divina, seja ela qual for. Será respeitada. Descobrir que as escolhas provindas de causas e conseqüências é responsabilidade de cada um, fruto em potencial de si próprio, e é mais que explicativa para saber que agimos sozinhos sim, o que se passa dentro de nós é uníssono com nosso âmago e nada mais. Depender de quem para agir? Desloquemo-nos sempre. Feliz 30 anos quantas vezes for preciso para todos nós.

CAMPOS, Karina Araújo. Belo Horizonte, 12 de junho de 2009.

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