Fotoletras Poéticas

Escrever, fotografar: eis a poesia do sentir; eis a poesia do olhar! Fotografar o que se vê, escrever o que se sente!
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quinta-feira, 6 de maio de 2010

O amor e a praia

Imagem: Imagens do Microsoft Windows

Karina Campos, Julho de 2009.

Em todos os tempos as histórias de amor comovem o ser. O amor é como a água... o verdadeiro amor é transparente, é límpido e torna-nos sensíveis ao mundo. O mundo do amor é um mundo azul, onde o fogo da paixão enaltece a grandeza do sentir. Porém, a transparência do amor ultrapassa todo o fogo produzido pela paixão, e há coisas que só sobrevivem sob o frescor das águas, que no balanço, no vai e vem do seu movimento fazem-se e refazem-se assim como os amores e não deixam cinzas...

- “A areia é maravilhosa. Sentir a areia nos pés é prazeroso. São milhões de partículas minúsculas e redondinhas juntas, a formar as costas litorâneas. Seja ela fofa, seja ela mais molhada, seja mais condensada, vermelha, amarela ou branquinha, sentir a areia é algo acolhedor, algo diferente, é sublime, tranqüilizante”.

Essas foram as palavras de Yana à sua mãe, quando retornou da primeira viagem que fez para conhecer o mar, aos dezessete anos. Sotaque nordestino, faceira menina, morena, os lábios viviam em sorrisos, os dentes brancos sempre à mostra. Dourada de sol, sobre a pele curtida da labuta, Yana, realizara um dos maiores sonhos que para ela poderiam existir: conhecer o mar, pisar e correr na areia.

Margarida não se continha ao ver a felicidade da única filha. Extasiava-se na sala de estar com banquinhos de palha e cortiça, as duas a sorrirem e Yana não parava de falar.

- Como é lindo o mar, minha mãe! É igual olhar para o céu. Tudo azul, mais escuro que o céu, mas não tem fim. É mais bonito ainda, mainha, o mar encontra com o céu lá no infinito. É um romantismo que só vendo. E as ondas parecem que fazem o barulho do beijo do encontro. A senhora nem acredita que existe aquilo mesmo. Parece mentira. Mas é verdade, viu! A senhora tinha que estar comigo, minha mãe!

- Pois é, minha filha! Mas querer não é poder, você sabe disso. E escolhi você para realizar esse sonho, que é mais seu que meu. A mim basta suas alegrias neste mundo.

- Mainha, mas o melhor nem lhe contei ainda. Mas a senhora não pode se avexar comigo não. Eu conheci um rapaz bonito demais, parecendo galã de novela. Parecia que o mar havia se derramado dentro dos olhos dele mãe. E ele era tão simpático, e tão educado que seria do tipo de genro que a senhora pediu a Deus. Acho que ele se encantou comigo, sabe! Ficou impressionado de saber que eu estava conhecendo o mar pela primeira vez. Enquanto eu conhecia o mar ele me contou do mar dos quatro cantos do mundo, não sabe! E enquanto ele falava, eu ouvia, e meus pés sentiam a areia, aquelas bolinhas minúsculas, entrando nos meus dedos, numa sensação de paz que nem sei explicar. Até disse pra ele que nenhum lugar do mundo devia ter aquela areia que trazia aquela sensação dali. Acredita que ele riu e falou que cada areia de cada canto do mundo traz uma sensação diferente e que cada uma é melhor que a outra, sabia mainha!

- Ah, minha filha! Que história é essa de rapaz! E aonde é que essa história terminou, menina? Não me desaponte, não. Vai, conta logo...

- Calma minha mãe, terminou na areia mesmo. Deixa eu lhe contar, fique calma.

Yana, em sua sincera amizade com sua mãe, fazia-lhe cada palavra parecer-lhe a mais pura realidade, a fim de que a mãe sentisse como se estivesse naquela bela praia. Mas Yana continha os maiores desejos de mulher no âmago e naquele jeito de menina. Relatou detalhes do que gostaria que a mãe soubesse, mas seus segredos de amor vividos na praia permaneciam guardados mesmo naquela chuva de palavras da recém chegada viagem. A alma de Yana transbordava felicidade. Era a felicidade de um primeiro amor, cheio de paixão, desejos, vivenciado num lugar paradisíaco onde reinava a alegria sublime de dois corações jovens, libertos no sentir, prontos para o viver somente.

-Então, minha mãe, George me deu as mãos e passeou comigo pela praia, caminhando vagarosamente. Eu ia sentindo a brisa batendo em meu rosto, as ondinhas tocando meus pés, as conchinhas brilhantes na areia. E sentia principalmente meu coração, que batia fortemente, como nunca senti antes, minha mãe. Acho, na verdade, que vivi um grande amor naquela praia, vivi minha primeira paixão e foi tão bonito!

Em sua mente, Yana ainda sentia como se estivesse ao lado de George, revivendo cada instante da viagem que lhe parecia um sonho lindo. Sentia ainda os afagos de George em seus cabelos, os carinhos feitos em seu rosto de uma forma única, com as mãos em forma de concha, sentia o cheiro de sua pele encostada na sua, sentia o sorriso do amado a sorrir-lhe na alma, com a boca bem pertinho da sua. Para Yana aqueles momentos jamais passariam na sua memória.

A magia daqueles momentos iria perpetuar-se na memória de Yana, na memória do pensamento, na memória do cheiro, na memória do gosto... Os apaixonados se amaram em cada momento que puderam, como se cada instante fosse o último de suas vidas. Os olhares apenas viam um ao outro e a praia. O sentir ia ao infinito da linha do horizonte, um amor azul na praia azul.

George e Yana se despiram de corpo e de alma plenos de sentimentos verdadeiros. Deitados na areia entreolhavam-se sob uma cortina de estrelas a emoldurar aquele instante. Adormeceram sob finos lençóis de linho de algodão brancos. O vento leve cantava e acalentava os amantes desbravadores de si próprios e um do outro. Será que um dia iriam experienciar tais momentos novamente?

O dia da partida de Yana chegara. George a contemplava como quem contempla o mar, com olhos fixos no infinito. Ela sorria simplesmente cheia de agradecimentos ao que a vida estava lhe oferecendo. George pediu-lhe o endereço e vergonhosa Yana entregou-lhe um bilhetinho com o endereço e um telefone de favor do vizinho das proximidades de sua casa.

Disse-lhe que jamais esqueceria aquele amor, e que o azul do mar, do céu e dos olhos de George ficariam para sempre em seu coração, em sua alma, em sua vida.

- Se não se esquecer de mim, George, sabe onde me encontrar.

O ônibus de Yana se aproximava e as mãos dos apaixonados não se desgrudavam, numa forma de sentirem-se até o último segundo. George olhou-a como se penetrasse dentro dela, como alguém que entra no mar, mergulha na onda. Mergulhou profundamente nos olhos de Yana dizendo o quanto já a amava e que também era inesquecível para ele.

Yana beijou George com doçura, com mel, mais adocicada que água de beija-flor e foi-se, qual borboleta tão leve estava seu ser. Seu olhar só via o azul, seu olha só via o amor. O mesmo amor e o mesmo azul que vislumbra, hoje, nos olhos de seu filho ao relembrar toda a história.

Yana cercou-se de azul, do amor que para ela tem a cor azul e tem a leveza e a fúria das ondas. George encantou-se com a terra do sertão da casa de Yana, encantou-se com Yana, com o filho e a praia... A praia está dentro de cada um, na realidade de cada um. O amor também.

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